segunda-feira, 3 de outubro de 2016

JOÃO DÓRIA É ELEITO NO PRIMEIRO TURNO EM SÃO PAULO

Essa é uma explicação óbvia, instintiva até, mas reducionista para o momento. Doria venceu uma disputa sui generis, com o PT destruído, num contexto em que as campanhas tiveram pouquíssimo dinheiro e no qual havia um vácuo de grandes lideranças na disputa. Mais do que tudo isso, a vitória de Doria é uma manifestação de repúdio à política profissional.
João Doria Jr., candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, com o governador Geraldo Alckmin (Foto: Luiz Claudio Barbosa/Codigo19 / Ag. O Globo)
O ódio aos políticos sempre existiu e tomou forma mais aguda nas manifestações de 2013, quando até bandeiras de partidos foram proibidas nos eventos. Doria não é um sujeito popular, carismático. Mas sua campanha foi favorecida por esse contexto. Sua propaganda enfatizou o fato de ele não ser político profissional, de nunca ter exercido um cargo público. Doria usou e abusou do discurso – nada novo – de ser um empresário “de sucesso”, um gestor disposto a trazer a “eficiência” do mundo privado para o arcaico serviço público, capaz de fazer as coisas andar. Por essa história de vida, foi visto por parte do eleitorado como alguém desprovido dos vícios atribuídos aos políticos – a corrupção, o discurso vazio, as promessas não cumpridas. Por ser rico, dono de um patrimônio declarado de R$ 180 milhões – fora uns imóveis em Miami –, Doria seria imune à prática do roubo dos cofres públicos. É um clichê recorrente. (A simples leitura de relatórios da Polícia Federal na Lava Jato derruba esse mito em poucos minutos, com diversos casos de empresários ricos envolvidos em corrupção com governos.) 
É irônico, mas em certa medida Doria foi eleito com uma réplica do discurso que elegeu Dilma Rousseff em 2010. Fora o fato não ser rica nem ter sido empresária – a lojinha de R$ 1,99 que teve em Porto Alegre não conta –, Dilma foi apresentada e aceita com a imagem de uma grande gestora sem carreira política. Era a pessoa capaz de destravar o Estado, cuidar de obras e projetos. Como não era uma profissional da política, não seria contaminada pela corrupção. Até ali, Dilma, como Doria, nunca tinha disputado uma eleição sequer. Era o novo – pelo menos na propaganda de João Santana, turbinada pelo caixa dois da Odebrecht. Eleita, Dilma foi a tal gestora, a “gerentona”. Deu no que deu. No universo paulistano, como Doria, o inexperiente Celso Pitta foi eleito em 1996. Seus recordes negativos de popularidade e desempenho podem ser consultados. Tanto Doria quanto Dilma passaram a mensagem “não somos políticos” e venceram.
Não ser político, no atual momento, é uma enorme vantagem. Isso diferenciou Doria de seus concorrentes, todos profissionais da área. Além do peso de serem parte desse clube rejeitado pelos eleitores, cada um teve seus problemas específicos. Fernando Haddad, o prefeito, pagou por ter administrado a cidade em um contexto de crise financeira e por ser o representante do PT no pior momento da história do partido. Marta Suplicy, do PMDB, pagou por ser vista ainda como petista por uns, e como representante do impopular governo de Michel Temer por outros. O apresentador Celso Russomanno, do PRB, pouco apresentou e sofreu com a pequena estrutura partidária.

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