sábado, 4 de março de 2017

MICHEL TEMER E A SOLIDÃO DO PODER

Quase só: o presidente Michel Temer no Planalto. Seu núcleo de confiança se reduziu a um ministro – Moreira Franco, também ameaçado pela Lava Jato (Foto: Ricardo Botelho/Brazil Photo Press/Ag. O Globo)
Na primeira metade de dezembro, quando começaram a ser revelados os primeiros detalhes da delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, o então assessor especial José Yunes procurou auxiliares do presidente Michel Temer para avisar que procuraria o Ministério Púbico Federal e prestaria um depoimento. Dizia que seus advogados recomendavam que ele se antecipasse à provável investigação que seria iniciada a partir da declaração do ex-executivo da empreiteira, de que ele havia recebido, em seu escritório em São Paulo, um envelope com R$ 4 milhões durante a campanha eleitoral de 2014. Aborrecido, Yunes dizia aos interlocutores de Temer que não havia negociado nenhum repasse financeiro com a Odebrecht e que só recebeu o envelope por solicitação de Eliseu Padilha, então ministro do governo Dilma Rousseff e hoje ministro-chefe da Casa Civil.
Yunes acabou demovido da ideia naquela ocasião, após muita conversa. Aliados o convenceram de que corria o risco de revelar aos investigadores mais do que eles sabiam e até cair em contradição, já que a delação da Odebrecht não era completamente conhecida. Dias depois, Yunes pediu demissão do cargo de assessor especial. O assunto ficou engavetado, mas o episódio revelou que os primeiros vazamentos da megadelação da Odebrecht deixavam uma espada prestes a cair sobre as cabeças dos principais nomes do governo Temer. Em fevereiro, Yunes procurou o presidente para avisar que decidira falar aos procuradores. Ficou acertado que Temer seria isentado de qualquer participação no episódio e que a responsabilidade pelo tal pacote seria atribuída exclusivamente a Padilha. A espada começou a cair.

Nenhum comentário:

Postar um comentário