Um grupo de 150 militantes do Levante Popular, do Movimento dos Pequenos Produtores e da Juventude do MST realizou na tarde desta segunda-feira, 31, um "escracho" em frente à casa do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, em um bairro nobre de Brasília. Os participantes da manifestação pregaram cartazes com fotos de pessoas que foram mortas e torturadas nas dependências do temido DOI-CODI, em São Paulo, durante o comando de Ustra, nos anos 1970.
Fabio Rodrigues/Agência Brasil
Cartazes marcaram fachada de residência de coronel reformado do exército
Reconhecido como "torturador" pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em 2008, Ustra prestou depoimento em maio do ano passado à Comissão Nacional da Verdade. Na época, ele chegou a apresentar um habeas corpus para não responder as perguntas, mas depois acabou dando um depoimento tortuoso, em meio a ironias e irritações. Ustra admitiu que tinha o controle total do DOI-CODI no período dos assassinatos e torturas. O coronel disse que não era um assassino e apenas cumpria ordens.
Uma das coordenadoras do protesto, a estudante Bárbara Loureiro, 24 anos, que faz pós-graduação na área de engenharia florestal, afirma que o grupo escolheu uma figura "emblemática" da ditadura no dia que o País lembra os 50 anos do golpe militar. "O levante já realizou 60 escrachos, mas esse é o primeiro em Brasília", observa.
Bárbara diz que o objetivo dos "escrachos" não é fazer confronto, mas apenas denunciar agentes do regime militar. "É uma ação rápida, de denúncia", ressalta. O grupo também procura pressionar a Comissão Nacional da Verdade, chamando a atenção para nomes que atuaram na rede de violações de direitos humanos.
Os participantes do protesto chegaram à casa de Ustra em três ônibus. Por meia hora, cantaram músicas do tempo da ditadura, colaram cartazes na vidraça de frente da residência e no portão e escreveram no asfalto que ali morava um torturador. O agente estaria em casa no momento do protesto, mas não apareceu.
Em 2005, as famílias das ativistas de direitos humanos Janaina Teles, Maria Amélia Teles e Criméia de Almeida entraram com ação declaratória na Justiça para acusar Ustra de tortura no DOI-CODI. Três anos depois, o Tribunal de Justiça aceitou que o agente praticou ilícito que gerou danos morais. A defesa de Ustra tentou sem sucesso reverter a decisão inédita envolvendo um nome da repressão política
Nenhum comentário:
Postar um comentário