"Acordei às 4h da manhã com Ângela na cabeça. Minha sobrinha de seis anos não
sabe que a mãe teve um AVC (acidente vascular cerebral)", diz Aécio Neves, mão
direita à testa.
Sentado a bordo de um bimotor que o levaria a Belém no dia 5 passado, o
senador do PSDB aperta o cinto de segurança e faz o sinal da cruz.
Antes de começar o giro por seis cidades do Norte e do Sudeste, volta a falar
da irmã mais nova, de 45 anos, internada três dias antes.
"Não consegui voltar a dormir", diz o senador, 53, provável candidato tucano
à Presidência. E afirma que a insônia naquela madrugada o ajudou a tomar a
decisão de "fazer comboios pelo Brasil".
Em Belém, uma van o leva a um centro de convenções onde centenas de pessoas o
esperam amontoadas. A cena destoa da imagem elitista associada aos eventos do
PSDB. O termômetro marca 36 graus.
Às 22h45, os motores do jatinho já estão ligados. A viagem continua rumo ao
Rio, onde ele verá Ângela antes de seguir para Americana, Campinas e Sorocaba
(SP).
Uma senhora entra no avião com presentes em duas caixas de isopor. Aécio
sustenta um dos potes sobre as pernas e cava colheradas fartas de sorvete de
tapioca.
"Será que vão dar prisão domiciliar para o Roberto [Jefferson, delator do
mensalão, condenado à prisão no julgamento do caso]? Espero que sim. Não torço
pelo infortúnio de ninguém."
Algumas horas mais tarde, o mineiro fala da pior cena de que se recorda: ver
o caixão do avô subindo a rampa do Palácio do Planalto. Na memória, a última
frase do presidente antes de morrer: "Eu não merecia isso".
"No Hospital de Base (onde Tancredo fora internado, em Brasília) era uma
confusão de gente. Uma coisa criminosa o que aqueles filhos da puta fizeram.
Tinha médico, parlamentar, que entrava dando carteirada. Entraram na sala na
hora da cirurgia com banquinho para ver a operação!", diz.
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