Em conversa com interlocutores, o ministro Guido Mantega (Fazenda) reconheceu
que o governo está vivendo seu "inferno astral" na área fiscal e que, neste ano,
o superavit primário (economia do governo para pagar juros da dívida) "não será
o dos nossos sonhos".
A avaliação reservada do ministro difere da difundida publicamente pelo
governo por admitir que "este ano está sendo difícil" na área.
O ministro discorda, porém, de avaliações alarmistas sobre o quadro fiscal
brasileiro e comentou que, mesmo sendo este um momento ruim, o superavit
primário será o "suficiente para manter a estabilidade das contas públicas e da
economia".
O setor público registrou deficit primário (arrecadação do governo menos os
gastos, exceto juros da dívida) recorde em setembro. Nos nove primeiros meses de
2013, seu superavit foi de apenas R$ 44,9 bilhões (1,28% do PIB), bem abaixo da
meta de R$ 111 bilhões (2,3% do PIB).
Apesar de afirmar que o governo ainda persegue a meta de 2,3% de superavit
primário, o próprio ministro, reservadamente, sinaliza que não deve ser possível
cumpri-la integralmente.
"Estamos nos empenhando para cumprir o máximo possível da meta", comentou a
interlocutores, ressaltando que, mesmo assim, o Brasil fará um dos maiores
superavit do mundo, suficiente para manter a dívida pública brasileira sob
controle.
Mantega diz que o Brasil não vai perder o seu grau de investimento --nota
concedida pelas agências de classificação a economias consideradas com baixo
risco de calote. Para o ministro, a avaliação das agências sobre a política
fiscal vai melhorar no próximo ano, que, garante, será "bem melhor".
A certeza do ministro está depositada, segundo ele, em ações que serão
tomadas nos próximos meses. A interlocutores, revelou que o governo vai
reverter, ao longo do próximo ano, as desonerações de impostos de bens duráveis
--veículos e linha branca.
Isso será possível, segundo ele, porque o "apetite do consumo está voltando,
de forma moderada".
O ministro repetiu ainda que o governo vai reduzir os créditos para os bancos
públicos, como BNDES e Caixa, e vai rastrear e cortar despesas em todas as
áreas.
Para ele, essas iniciativas, associadas a uma recuperação da economia e à
melhora dos lucros das empresas, vão aumentar a receita e melhorar as contas
públicas.
Indagado, Mantega disse a interlocutores que o governo ainda não definiu qual
será sua meta de superavit primário ajustada para o próximo ano. Na proposta de
Orçamento, é de 3,1% do PIB e seguirá nesse patamar. Segundo ele, uma meta maior
funciona como um desafio para todo o setor público.
Neste ano, o governo decidiu ajustá-la para 2,3%. Para o próximo, de eleição
presidencial, o mercado trabalha com uma meta de no máximo 1,8%. O patamar é
considerado razoável por analistas, que criticam, porém, o que consideram
tentativas de esconder resultados negativos, nos discursos e pelo uso de
manobras contábeis
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