Uma das figuras centrais do caso do mensalão tucano deverá ser o segundo réu
a se beneficiar da prescrição das acusações. O tesoureiro da campanha do PSDB ao
governo de Minas Gerais em 1998, Cláudio Mourão, fará 70 anos em abril e poderá
requerer a prescrição das acusações de peculato (desvio de recursos públicos) e
lavagem de dinheiro.
Pelo mesmo motivo, o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia ganhou esse direito
e pediu sua exclusão do rol dos 13 réus do processo em Minas.
O prazo de prescrição para esses crimes é de 16 anos, mas cai pela metade
quando o réu atinge 70 anos. O cálculo é feito da ocorrência do fato (1998) à
aceitação da acusação (2010). Portanto, 12 anos se passaram --mais do que o
prazo que passa a valer em abril para Mourão.
O mensalão tucano veio à tona no rastro da apuração do mensalão do PT, em
2005. A dinâmica e o envolvimento do empresário Marcos Valério de Souza ligam os
dois casos.
O processo foi desmembrado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Réus sem foro
especial respondem na Justiça mineira. Já o deputado e ex-governador Eduardo
Azeredo (PSDB) e o senador Clésio Andrade (PMDB), no STF.
A denúncia diz que, sob forma de patrocínio de eventos esportivos, R$ 3,5
milhões foram desviados do banco estatal Bemge e das empresas públicas Comig e
Copasa e depois usados na campanha pela reeleição Azeredo. Os réus negam todas
as acusações.
Clésio era candidato a vice, e Mares Guia, vice-governador. Mourão foi
secretário de Administração. Outros réus exerciam cargos no Executivo ou nas
empresas públicas.
Também foram denunciados Valério e seus sócios na agência SMPB, Cristiano Paz
e Ramon Rollerbach, todos condenados no caso do PT.
A SMPB teria simulado empréstimos no Banco Rural para dar aparência lícita ao
dinheiro, sustentou o relator do caso no STF à época, Joaquim Barbosa: "[Há]
inúmeras semelhanças com o denominado 'mensalão', tendo sido considerado [...]
embrião dos episódios em 2003 e 2004".
Barbosa acusou advogados de manobrar para protelar o caso. Em 2008, por
exemplo, a defesa de Valério pediu que fosse julgado em Minas, alegando que só
Azeredo tinha foro privilegiado. Em 2011, conseguiu que o processo subisse ao
STF --e Barbosa mandou voltar para Minas.
O Ministério Público prevê o julgamento da ação em Minas em 2015. O STF
deverá julgar Azeredo e Clésio em 2014.
Para o promotor responsável pelo processo em Minas, João Medeiros, não há
demora. "Esse processo está andando em um ritmo bem razoável. São muitos réus e
quase cem testemunhas."
Segundo ele, a juíza do caso tem audiências diárias, e a primeira instância
da Justiça não pode atuar somente neste caso.
OUTRO LADO
Os réus do processo do mensalão tucano negam todas as acusações.
O deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) diz que não se envolvia com as
finanças de sua campanha ao governo em 1998 e que não ordenou que estatais
patrocinassem eventos de esporte.
O ex-ministro Walfrido dos Mares Guia nega que tenha atuado na campanha de
Azeredo. Afirma que à época ele cuidava da sua candidatura a deputado federal.
Há um ano, quando as acusações contra Walfrido prescreveram, o advogado
Arnaldo Malheiros Filho disse que seu cliente preferia continuar no processo
para provar sua inocência. "Mas não adianta não querer", disse.
O advogado do ex-tesoureiro Cláudio Mourão vai na mesma linha. Diz que seu
cliente quer "que seja decretada sua inocência", mas diz que a prescrição é
inexorável.
"Ele nada mais fez do que coordenar uma campanha, não participou de
arrecadação de recursos", afirmou Antonio Velloso Neto.
O senador Clésio Andrade (PMDB) afirma que, embora candidato a vice de
Azeredo, não integrava o governo, não ordenava despesas e não tinha atuação na
campanha.
No núcleo publicitário, as defesas de Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon
Rollerbach dizem que os valores repassados à SMPB foram empregados em eventos
esportivos tradicionais no Estado.
Valério diz ainda que os empréstimos tomados foram empregados na campanha
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