O Ministério Público Federal abriu inquérito civil para investigar a redução,
pelo governo Dilma Rousseff, do número de fiscalizações da Controladoria-Geral
da União (CGU) em municípios que recebem verbas federais. A Procuradoria da
República no Distrito Federal apura o porquê do corte de recursos para as
auditorias em 2013, ano pré-eleitoral, medida que impacta as ações de controle e
combate à corrupção.
O inquérito, iniciado em 28 de abril, visa averiguar se houve irregularidades
na reprogramação dos trabalhos da CGU sob a nova realidade orçamentária, além de
buscar eventuais soluções para aprimorar o funcionamento do órgão, parceiro do
MPF na apuração de desvios e malversação de dinheiro público.
Em 2013, caíram em 25% os recursos para passagens e diárias de auditores que
percorrem o Brasil fazendo o pente-fino nas prefeituras. Elas são escolhidas por
meio do Programa de Fiscalização por Sorteio, que existe desde 2003 e no qual
estão incluídos municípios de até 500 mil habitantes. O problema foi noticiado
pelo Estado em novembro do ano passado.
Em 2004, o órgão de controle, espécie de "xerife" do governo federal, chegou
a fiscalizar 400 municípios. Esse número diminuiu ao longo do tempo, chegando a
180 em 2010, último ano do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na gestão Dilma, as fiscalizações despencaram. Foram 120 em 2011, 84 em 2012 e
60 no ano passado.
A CGU nega motivação político-eleitoral nos cortes, justificando que eles são
resultado do contingenciamento de recursos que atingiu todos os ministérios. Em
2013, o orçamento destinado ao órgão de controle era de R$ 84 milhões, mas, com
os cortes determinados pelo governo, ele ficou em R$ 79 milhões. Ao fim, foram
pagos, em valores previstos para o ano, R$ 68 milhões, fora outros R$ 13 milhões
de restos a pagar (compromissos de anos anteriores, quitados no exercício).
O resultado é que a Secretaria Federal de Controle Interno (SFC), responsável
pelo pente-fino nos municípios, teve mais de 50% da verba reduzida. Em 2012, o
setor recebeu R$ 13,7 milhões; em 2013, 6,7 milhões (já incluídos os restos a
pagar).
A crise no ano foi tão aguda que o órgão teve de fechar temporariamente uma
de suas sedes em Brasília, onde funcionava a Corregedoria-Geral, por falta de
dinheiro para pagar condomínio, limpeza, água, luz e energia. "O fato é que, com
ou sem eventuais cortes, o orçamento é subdimensionado", admite a CGU em
nota.
Previsão. A perspectiva para 2014 não é de melhoria, já que
o orçamento previsto é ainda menor: R$ 77 milhões. Não por acaso, o número de
municípios fiscalizados no ano continuará em 60. O sorteio de uma segunda leva
de prefeituras a serem vistoriadas foi cancelado.
Sem condições de contornar as dificuldades, a CGU alega ter realocado
servidores para a realização de outras tarefas, buscando concentrá-los em
trabalhos nas sedes regionais do órgão, nas capitais.
"A única vantagem é que neste ano não haverá surpresas, pois fomos poupados
do contingenciamento ocorrido no início do ano e a promessa é que não seremos
contingenciados, mesmo porque não teríamos como funcionar", afirma a CGU.
O ministro da pasta, Jorge Hage, pediu ao Ministério do Planejamento crédito
suplementar de R$ 17 milhões.
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