BRASÍLIA - O presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Joaquim
Barbosa, afirmou nesta terça-feira, 19, que existe um conluio entre juízes e
advogados. Durante julgamento no qual o CNJ determinou a aposentadoria
compulsória de um magistrado do Piauí acusado de beneficiar advogados, Barbosa
disse que muitos juízes devem ser colocados para fora da carreira.
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"Há muitos (juízes) para colocar para fora. Esse conluio entre juízes e
advogados é o que há de mais pernicioso. Nós sabemos que há decisões graciosas,
condescendentes, absolutamente fora das regras", criticou Joaquim Barbosa.
O presidente do CNJ deu a declaração ao debater de forma amistosa sobre o
caso do Piauí com o relator do processo, Tourinho Neto, que ficou vencido no
julgamento. Tourinho Neto comentou: "Tem juiz que viaja para o exterior para
festa de casamento de advogado e não acontece nada."
Em sua última sessão como conselheiro do CNJ, Tourinho Neto foi o único a
votar contra a aposentadoria compulsória do juiz de Picos (PI) João Borges de
Sousa Filho.
Tourinho Neto afirmou que tem amizade com advogados, mas que isso nunca
influenciou suas decisões. Ele contou que foi juiz no interior da Bahia e que
"tomava uísque na casa de um, tomava cerveja na casa de outro".
O conselheiro disse que existe juiz que instala câmera no gabinete para se
precaver e posteriormente não ser acusado de beneficiar determinada parte de um
processo. "Isso é terrível. Na próxima Loman (Lei Orgânica da Magistratura) vai
estar que juiz não pode estar com advogado e nem com Ministério Público",
opinou.
Pouco depois, Tourinho comentou sobre a possibilidade de clientes escolherem
advogados que são próximos a juízes. "O advogado é amigo do juiz, a parte
contratada achando que vai receber benesse", disse. "E às vezes recebe um
tratamentozinho privilegiado", rebateu Barbosa. Tourinho reagiu e afirmou: "Mas
Vossa Excelência é duro como diabo."
Nos debates, Tourinho chegou a comentar a possibilidade de Joaquim Barbosa se
candidatar à Presidência da República no próximo ano. "O juiz, na maioria dos
casos, é um acovardado. Vossa Excelência foi endeusado. Quem sabe não será o
próximo presidente da República?", brincou. O presidente do CNJ não
respondeu.
Recentemente, Joaquim Barbosa envolveu-se em uma polêmica com associações
representativas de juízes. O problema ocorreu após o presidente do STF ter
concedido uma entrevista a jornalistas correspondentes estrangeiros na qual
atribuiu a magistrados brasileiros mentalidade mais conservadora, pró
impunidade.
Entidades representativas de magistrados reagiram. Numa nota oficial,
afirmaram que não admitem que sejam lançadas dúvidas genéricas sobre a lisura e
a integridade dos magistrados brasileiros. "Causa perplexidade aos juízes
brasileiros a forma preconceituosa, generalista, superficial e, sobretudo,
desrespeitosa com que o ministro Joaquim Barbosa enxerga os membros do Poder
Judiciário brasileiro", afirmaram as associações na nota.
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