sábado, 5 de novembro de 2016

P.T. É DERROTADO NO SEU BERÇO POLÍTICO

O candidato à prefeitura de Santo André, Paulo Serra (PSDB) (Foto: RICARDO TRIDA/DIÁRIO DO GDE ABC/ESTADÃO CONTEÚDO)
O fim de tarde se aproxima, o “Tema da vitória” de Ayrton Senna é repetido pela enésima vez, quando Paulo Serra percorre a carroceria do caminhão pedindo que abaixem o som imediatamente. Das várias ligações que atendeu, aquela é a mais importante do dia. O deputado estadual e presidente do diretório do PSDB, Pedro Tobias, quer falar. “Ele convidou os dez prefeitos mais votados para um jantar na casa dele”, diz Serra, sem conseguir conter a empolgação. Ana Carolina, sua mulher, diz que não vai. Não importa. Àquela altura da terça-feira (1º), Serra (nenhum parentesco com o ministro das Relações Exteriores, José Serra), prefeito eleito de Santo André, município da Grande São Paulo, participava havia mais de cinco horas de uma carreata para agradecer os eleitores pela vitória. Mas os caminhões de campanha, como os carros alegóricos de Carnaval, insistem em sabotar a festa. 
Sob sol forte e um calor de 30 graus, os veículos de Serra quebraram três vezes no percurso que passou pelas comunidades Vila Luzita e Cata Preta, pelos bairros como Utinga e Camilópolis e, por fim, áreas mais ricas, como os bairros Campestre e Jardim – onde ele mora. Era mais uma das mais de 60 carreatas que Serra fez para conquistar a prefeitura de Santo André, no ABC paulista. A medida era imperativa, segundo ele, porque a cidade de mais de 700 mil eleitores não tem propaganda na televisão. O tucano Serra venceu no segundo turno, com 78% dos votos, contra o petista Carlos Grana, que teve 22%. Para o PT, de Grana, foi uma das derrotas simbólicas do movimento pendular da política, que varreu o partido nas urnas e abriu mais espaço ao PMDB e, principalmente, ao PSDB.
Encerrada a eleição de 2016, o PT perdeu dois terços das prefeituras que comanda desde 2012: são 638, serão 256 a partir de janeiro. Comandará apenas uma capital – Rio Branco, no Acre. Governará o menor contingente de brasileiros em 20 anos: hoje são 38 milhões de brasileiros, um número inflado por ter a prefeitura de São Paulo; sem ela e muitas outras, serão apenas 6 milhões a partir de 2017. Em 2012, os prefeitos eleitos pelo PT manobravam orçamentos de R$ 129 bilhões; os eleitos deste ano administrarão R$ 14 bilhões. O PT encolheu a um tamanho semelhante ao que tinha em 2000.
Pela primeira vez em 34 anos de história do PT, nenhum de seus candidatos elegeu-se no ABC, um conjunto de sete cidades – Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – que fazem divisa com São Paulo pela Zona Sul e concentram montadoras de veículos e indústrias. O fracasso do PT onde o sindicalismo metalúrgico levou às greves do final da década de 1970, a Lula e ao surgimento do partido é tanto o rompimento de um tabu, quanto sintoma da doença que derruba a legenda. É verdade que o PT, por um capricho qualquer, nunca foi dominante na região. O sindicalista Luiz Marinho, que deixa a administração de São Bernardo no final do ano sem ter feito o sucessor, foi o único prefeito petista da cidade. São Caetano nunca foi administrada por um petista. Contudo, o PT nunca se mostrou tão fraco na área. Da mesma forma, nunca houve uma Operação Lava Jato a exibir a corrupção de forma tão explícita.

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