segunda-feira, 26 de agosto de 2013

DIPLOMATAS BRASILEIROS ORGANIZARAM FUGA DE SENADOR BOLIVIANO

O senador boliviano Roger Pinto Molina
O senador boliviano Roger Pinto Molina (Gaston Brito/Reuters)
Depois de passar 455 dias asilado na embaixada brasileira em La Paz, o senador boliviano Roger Pinto Molina desembarcou em Brasília neste fim de semana após ter contado com ajuda direta do ministro Eduardo Saboia, encarregado de negócios do Brasil na Bolívia, e do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores. Ferraço disse que o parlamentar boliviano viajou 22 horas de carro entre La Paz e a cidade brasileira de Corumbá (MS) e depois foi de avião até Brasília. “Estávamos vendo o nível de deterioração do senador Molina e não tinha perspectiva nenhuma de solução. Eduardo Saboia, que respondia pela embaixada e é muito comprometido com direitos humanos, foi se indignando”, relatou Ferraço ao site de VEJA.
Por ter imunidade diplomática, um carro da representação brasileira em La Paz foi utilizado para o primeiro trecho da viagem e escoltado por fuzileiros navais. Foram 1.600 quilômetros e negociações a cada uma das cinco barreiras policiais. Neste domingo, o Ministério das Relações Exteriores informou em nota que abrirá inquérito sobre a entrada do político boliviano no Brasil. O texto diz que Saboia foi chamado ao Brasil para esclarecimentos. Molina está abrigado temporariamente na casa do advogado Fernando Tibúrcio na capital federal.
O senador Ferraço, que providenciou um avião particular para resgatar o senador Roger Pinto Molina na zona de fronteira, criticou a atuação do governo da presidente Dilma Rousseff no caso. Em sua opinião, depois da concessão do asilo político ao boliviano, o governo brasileiro não se empenhou para destravar as negociações para concessão de salvo-conduto ao opositor. “O governo e as autoridades deveriam ter tido empenho no salvo-conduto, mas não tiveram. Há uma ambiguidade do governo brasileiro, que se curva a esses governos bolivarianos e se submete a presidentes como Evo Morales”.
Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, Saboia disse ter tomado a decisão de conduzir a operação para que Molina viesse ao Brasil “porque havia um risco iminente à vida e à dignidade de uma pessoa”. Acrescentou que não havia nenhuma negociação em curso para que ele deixasse a embaixada brasileira. “Ele tinha um problema de depressão que estava se agravando”, disse.
Na avaliação de interlocutores que acompanharam o processo, a situação de Pinto Molina se agravou nos últimos tempos, com deterioração da saúde e risco de vida para o político, que estava na embaixada brasileira em La Paz desde 28 de maio de 2012. O parlamentar tentava deixar a Bolívia desde que denunciou o envolvimento de importantes políticos do país com o narcotráfico.
Reações – Neste domingo, a ministra boliviana de Comunicação, Amanda Dávila, disse que o caso não afetará as relações entre os dois países. "As relações entre Bolívia e Brasil se mantêm em uma situação de absoluta cordialidade e respeito", disse a ministra em entrevista coletiva no Palácio de Governo, neste domingo. Ela acrescentou que a Bolívia "não negociou a saída" e não deu salvo-conduto para que o senador viajasse ao Brasil porque ele responde a processos por corrupção e já foi condenado em um caso a um ano de prisão. "O que ocorreu é simplesmente uma fuga da embaixada do Brasil para o território brasileiro", argumentou.
O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, afirmou que “não há uma ruptura nas relações bilaterais”. “Com o Brasil temos que ser muito prudentes. O que é Roger Pinto no meio de uma dinâmica comercial de dois e três bilhões de dólares?”. No entanto, o governo boliviano também disse que o Brasil deve explicar como o senador opositor deixou o país, uma vez que existem quatro ordens judiciais que impediam sua saída.

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