A iminência da abertura de uma comissão parlamentar de inquérito
para investigar a Petrobrás levou o Palácio do Planalto e o comando da
campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff a começar um processo
de reaproximação com o PMDB, após semanas de uma intensa disputa
política com o principal aliado. O objetivo é consolidar apoios no
Congresso que ajudem a blindar Dilma durante a investigação. Em troca, o
PT cede espaços na elaboração dos palanques regionais.
O primeiro caso a ser revisto foi justamente onde as negociações
estavam mais complicadas: Ceará. No Estado, a crise na Petrobrás pôs fim
à disputa de meses entre os irmãos Cid e Ciro Gomes e o senador Eunício
Oliveira (PMDB), que reivindicava o direito de disputar o governo.
Eunício, que chegou a ser convidado para assumir o Ministério da
Integração Nacional para abrir caminho para os irmãos Gomes, rejeitou a
oferta de Dilma e afirmou que só aceitaria a candidatura ao governo.
Passou, desde então, a frequentar todas as reuniões de grupos
dissidentes. Mas os problemas na estatal aceleraram a solução. Com o
aval da presidente, ele será o candidato da base.
Aos irmãos Gomes restou o lançamento de Ciro ao Senado, numa disputa
com seu ex-padrinho Tasso Jereissati (PSDB), apontado nas pesquisas como
favorito à única cadeira em jogo. A entrada de Ciro na corrida ao
Senado sacrificou o deputado José Guimarães, ex-líder do PT na Câmara e
vice-presidente do partido.
A crise na Petrobrás também deverá empurrar o PT do Maranhão para uma
aliança com o senador José Sarney (PMDB-AP) e com a governadora Roseana
Sarney (PMDB). Até agora, uma forte ala do PT insistia em romper com os
Sarney e apoiar Flávio Dino, do PC do B. Mas, por causa da CPI da
Petrobrás, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente fechou
o acordo para que os petistas desistam de Dino. Com isso, o PSB do
governador Eduardo Campos formalizará aliança com o maior adversário de
Sarney, lançando ao Senado o vice-prefeito de São Luís, Roberto Rocha.
Na Paraíba, a ordem é levar o PT para o PMDB do senador Vital do
Rêgo. Escolhido em setembro ministro da Integração pelos senadores
peemedebistas, Vital não chegou a ser convidado por Dilma para a função.
No auge da crise com o PMDB, há um mês, ela ofereceu a ele o Ministério
do Turismo. O senador não aceitou. Na coleta de assinaturas para a
criação da CPI da Petrobrás, ele disse que não daria seu apoio por
pertencer à base do governo. Dilma decidiu que o PT deverá apoiar o
candidato Veneziano do Rêgo ao governo. Ele é irmão de Vital.
A CPI da Petrobrás deverá mudar também o quadro político em Goiás. O
PT havia decidido que só se aliaria ao PMDB se o candidato fosse o
ex-governador Iris Rezende. Mas o partido passa por uma disputa interna,
com favoritismo de José Batista Júnior, o Júnior da Friboi. Há, nesse
instante, uma pressão interna do PT para que o partido desista de lançar
a candidatura do prefeito de Anápolis, Antonio Gomide, e apoie o nome
do PMDB, mesmo que seja Júnior da Friboi.
O Planalto já sente os efeitos da reaproximação. A bancada do PMDB no
Senado defende que o foco da CPI seja ampliado e alcance denúncias de
cartel e fraudes em licitações de trens em São Paulo e o porto de Suape,
o que atingiria partidos da oposição, como PSDB e PSB.
Danos. Com a estratégia de concessões nos Estados, o
governo quer reduzir danos políticos que a CPI deverá causar. O mais
certo deles é que Dilma vai atravessar a campanha presidencial tendo de
administrar as denúncias contra a estatal e as revelações que forem
surgindo. A economia também pode ficar mais vulnerável, já que a maior
empresa do País estará sob investigação. Outro fator é que as condições
da eleição na Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do País, ficarão
ainda mais difíceis.
"O ex-presidente da Petrobrás era do PT e agora está no governo
Jaques Wagner, que era do Conselho de Administração na época em que a
refinaria de Pasadena foi adquirida. A crise tem a digital do PT
baiano", disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB), do grupo dissidente,
irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que pretende concorrer ao
governo do Estado contra o PT. "O desenrolar da CPI pode significar uma
diminuição no apoio a Dilma. Se ela perder credibilidade, até partido
que recebeu ministério na reforma pode pular fora", disse.
Como consequência, o PT da Bahia quer se fortalecer com outros
partidos da base. O candidato a governador é o deputado Rui Costa, que
terá na vice o deputado João Leão, do PP. Wagner desistiu de disputar o
Senado para abrir espaço para o atual vice-governador, Otto Alencar
(PSD).
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