El Salvador acaba de instalar em São Paulo um escritório de promoção
turística e comercial do país.
A escolha, explicou o chanceler salvadorenho Jaime Miranda durante passagem
pela cidade na semana passada, é um esforço para equiparar em termos econômicos
a densa relação bilateral forjada com o Brasil desde a chegada ao poder em 2009
de Mauricio Funes, da esquerdista FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação
Nacional), e da primeira-dama Vanda Pignato, brasileira e ligada ao PT.
Em entrevista à Folha, Miranda brincou com a "petização" de El
Salvador e disse que é hora do país se "voltar ao sul" do continente.
Folha - Por causa da primeira-dama brasileira e do PT, podemos dizer que
El Salvador é um governo petista na América Central?
Jaime Miranda -
(Risos) Muitas das coisas que fizemos lá tomamos o Brasil como modelo, nos
programas contra a pobreza, de agricultura. Assinamos 15 convênios de cooperação
técnica, do tipo Sul-Sul. Nesse contexto, digo que isso partiu, obviamente, da
nacionalidade da primeira-dama Vanda Pignato, de sua relação com o PT e sua
relação com o presidente Lula e da amizade que o presidente Funes construiu com
Lula e que continua com Dilma. A verdade é que nos permitiu fomentar essa
relação importante para El Salvador.
Podemos fazer uma brincadeira, nada mais que isso, e falar da "petização",
mas também da "Funezação" do Brasil. A relação é mútua. Por exemplo, temos o
programa "Ciudad Mujer", que é uma concentração de políticas públicas para
atacar a desigualdade de gênero, desenvolvido pela primeira-dama. A presidente
Dilma propôs que o modelo seja usado no Brasil [aqui se chamará Casa da
Mulher].Tivemos, durante anos, relação apenas com o Norte. Hoje queremos nos
voltar ao Sul.
Seu país acaba de comprar caças A37 do Chile. Analistas viram resposta à
suposta pressão do Exército sobre Funes e outros dizem que a compra é um recado
a Honduras por causa de uma rusga bilateral. O que o sr.
diz?
Simplesmente estamos aproveitando uma oferta do Chile, de aviões já
usados, que são adequados para nós. Não creio que a compra esteja relacionada a
pressões das Forças Armadas.
O Tratado de Segurança da América Central propõe o equilíbrio na região. No
caso de El Salvador, havia um desequilíbrio porque nosso Exército, depois da
guerra [civil, encerrada em 1992], não foi equipado. Tampouco tem a ver com
conflitos regionais. É a coisa mais normal do mundo, inclusive para combater
problemas comuns, como o crime organizado.
Como o governo encarou o Exército homenagear no mês passado militares
envolvidos no massacre de El Mozote, que matou 800 em 1981?
O presidente
Funes pediu perdão à nação pelo massacre de El Mozote, pela morte do monsenhor
Romero [arcebispo de San Salvador, assassinado em 1980], etc. Ele falou de
modificar a história das Forças Armadas. É um processo, que não deve ser visto
só pelo ângulo de uma contradição atual, mas como um processo que vai avançando.
Se comparamos o momento atual com cinco anos atrás, nada disso seria
possível. Não é em um tempinho que se resolve. Os processos mentais de
reconstrução levam muitos anos.
O Uruguai está nos preparativos para legalizar a maconha. Qual a sua
opinião?
Neste momento, não é algo adequado. Se [um país] não está
preparado, melhor não. Seguiremos discutindo
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