quinta-feira, 13 de setembro de 2018

AUSÊNCIA DE LULA ENFRAQUECE O P.T.

Ricardo Stuckert
Desde o início do mês o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está inelegível. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiu a questão com seis votos contra o condenado e um a favor. Nada mais óbvio: o precedente de garantir direitos eleitorais a quem está atrás das grades é, não apenas uma insanidade, mas uma afronta à democracia. Afinal, dar ordens de dentro da prisão é coisa do crime organizado; supostamente, não seria digno de um escritório da Presidência da República se submeter a isso — mas, para o Partido dos Trabalhadores, parece uma maneira natural (e já muito utilizada) de manter um chefe recluso à frente das operações do bando.
Com a notícia, a legenda do ex-candidato está sendo obrigada pela justiça, sob pena de multa, a recolher as propagandas protagonizadas pelo Sr. Luiz Inácio. Em tom pernóstico, arrastado, piegas como novelas mexicanas, Lula preenche os minutos na tela colocando-se ao mesmo tempo como vítima a ser protegida e herói a ser idolatrado. Um espetáculo de manipulação barata, com a finalidade de estimular a idolatria dos que seguem a “religião Lulista”.
A encenação toda é substituída pelas chorumelas de seus “dois vices” — Fernando Haddad e Manuela D’Ávila. Mas nem mesmo passando a faixa e a coroa Lula se desvia dos holofotes: a maior parte do tempo eleitoral que seus pupilos possuem para fazer propaganda é ocupada com seus próprios olhos lacrimejantes. Na ingrata tarefa de produzir um mártir a partir de um condenado desmoralizado, os marqueteiros do PT erram a mão. Em um primeiro momento, papagaiar a inocência de Lula (que não existe) e defender sua retidão política (que não existe) pareciam bons caminhos para construir uma lenda injustiçada, tocar o coração do povo com compaixão e piedade. No entanto, depois de todas as condenações possíveis, recursos negados e culpabilidades estabelecidas, a estratégia se transforma em uma medida desesperada, pueril e sinceramente vergonhosa para quem vê de fora. Um insulto à inteligência de qualquer brasileiro que não tenha sofrido lavagem cerebral.
O PT, embora alinhado a ideias populistas e nocivas em suas origens, possui ainda um pouco da simpatia do público geral.
Nomes mais recentes como Haddad e D’Ávila (da famosa ‘linha auxiliar’ do partido), se realmente valorizados fora da sombra de Lula, poderiam representar tanto uma nova era do partido quanto um resgate dos ideais originais, dos tempos de Hélio Bicudo. Teriam tido mais chances de expressividade se todo o processo não fosse maculado por essa insistência obsessiva em manter um presidiário condenado na linha de frente das campanhas.
Infelizmente para os petistas, o Brasil vive uma nova fase de consciência política. Não é ainda uma expansão generalizada, mas é sem dúvida um avanço de peso, considerando a nossa jovem democracia. Neste novo Brasil político, as pessoas possuem um senso de urgência muito mais apurado.
“Estamos chegando ao nosso limite”, dizem os noticiários e suas tragédias todas as noites. “Estamos sendo mais roubados do que nunca”, diz a percepção de realidade fomentada pelas grandes operações contra a corrupção institucionalizada.
E assim, o brasileiro cansa de dar segundas chances a quem está no poder. Cansa de alimentar a perniciosidade da velha política. Assim, o brasileiro passa a preferir votar no ex-militar que defende soluções extremas para a segurança e com quem se identifica na revolta. O brasileiro passa a preferir votar no ex-banqueiro que defende soluções extremas para a gestão do patrimônio público, com quem ele se identifica em seu desejo de prosperidade. E assim, o brasileiro deixa de lado sua preferência pelo ex-sindicalista aposentado que só defende a si mesmo, num balé frenético com a justiça, com quem só se pode identificar pelos fracassos e pela inércia para progredir. É um novo tempo na política, onde começamos a aprender que não é eficiente eleger Josés ou Marias só por causa de sua história triste. Lição, esta, que o PT ainda não conseguiu aprender.

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