terça-feira, 20 de novembro de 2018

A RUPTURA NA DIPLOMACIA BRASILEIRA.

O recém-eleito presidente Jair Bolsonaro (esq.) e seu novo chanceler, o diplomata Ernesto Araújo, em 14 de novembro, em Brasília
A diplomacia brasileira deve dar uma guinada radical sob o comando de Ernesto Araújo, um diplomata de carreira modesta, que ganhou a confiança de Jair Bolsonaro por compartilhar de uma ideologia que prioriza o alinhamento com Washington e a oposição severa ao multilateralismo.
O futuro ministro das Relações Exteriores chegou ao posto de embaixador em junho, embora em seus 29 anos de carreira nunca tenha chefiado uma embaixada. A partir de 1º de janeiro, no entanto, será o encarregado de "regenerar" o Itamaraty, sede da diplomacia brasileira, onde até agora era o chefe do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos.
"As ideias que defende marcam uma importante ruptura" para a diplomacia, afirmou Fernanda Magnotta, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Fundação Armado Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo.
Após a indicação, na semana passada, deste diplomata quase desconhecido de 51 anos, os analistas se lançaram ao seu blog Metapolitica17, apresentado com um subtítulo que não deixa dúvidas: "contra o globalismo".
Ali, encontraram sérios motivos de preocupação.
Descrito como um "intelectual brilhante" por Jair Bolsonaro, e apoiado pelo filho deste, o deputado Eduardo Bolsonaro, para ocupar o posto, Araújo compartilha ali opiniões radicais que vão do patriotismo exacerbado ao repúdio virulento do multilateralismo e do "marxismo cultural", que "influenciou o dogma científico do aquecimento global".
No Brasil, "desistimos de ser um grande país" por "obediência à ordem global", lamentou o futuro chefe da diplomacia em seu blog, ao qual já não se podia acessar livremente na segunda-feira. Para ele, o "objetivo último [do globalismo] é romper a conexão entre Deus e o homem", escreveu.
Como Jair Bolsonaro, Araújo é um admirador fervoroso do presidente americano, Donald Trump, que, segundo ele, pode "salvar o Ocidente". Este nacionalista apaixonado adaptou o "América primeiro" de Trump ao "Brasil primeiro" e, com ele à frente do Itamaraty, Brasília poderia facilitar a Washington um maior isolamento de Cuba e Venezuela.
Araújo considera, também, que é preciso "resistir à China maoísta (sic) que dominará o mundo". Jair Bolsonaro já incomodou Pequim, acusando os chineses de "comprar o Brasil" e com sua visita a Taiwan no começo do ano.
- 'Devastador' -
"Vamos ver um alinhamento muito forte [do Brasil] com a administração americana", avaliou Mônica Herz, professora associada do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.
"As relações com a América Latina podem sofrer e a preocupação mais evidente é a China, embora também a Europa" preocupe. Araújo qualificou o Velho Continente de "espaço culturalmente vazio"

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