segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

CONTAMINAÇÃO DO AMBIENTE POLÍTICO PODE AFETAR AMIZADES.

Muro erguido para separar apoiadores do governo e militantes do impeachment em 2016, quando o ambiente político se deteriorou de vez. 
Célia* não assistiu “Coringa” nem “Bacurau” - o que é estranho, porque durante anos ela foi a amiga com quem mais conversei sobre cinema. 
De um ano pra cá, os filmes mais comentados do ano não despertaram interesse nem a convenceram a sair de casa. Ela também não comemorou seu aniversário, em julho, e no Réveillon pretende tomar apenas uma cerveja com uma amiga, com quem divide o apartamento para onde se mudou a fim de reduzir os custos de aluguel. Dormir mais cedo é a estratégia para fazer o tempo passar mais depressa, ela conta.
Militante feminista, ela já perdeu as contas de quantas situações de estresse agravaram seu quadro depressivo desde outubro de 2018, quando Jair Bolsonaro foi eleito prometendo combater toda forma de ativismo.
Prometeu e cumpriu.
Na última quarta-feira, ela e a mãe ficaram longos minutos em silêncio depois de uma conversa despretensiosa sobre o preço da carne. Um assunto puxou o outro: as prisões de brigadistas voluntários em Alter do Chão, no Pará, a fala do ministro Paulo Guedes sobre o AI-5, o aumento da gasolina, a escolha de uma pessoa com discurso racista para a Fundação Palmares.
“Lembramos de uns dez absurdos em uma conversa de poucos minutos. Não sobra energia para tentar reconstruir qualquer coisa. Você sai para tomar cerveja e as pessoas estão falando de política, com raiva. Está tudo contaminado.”

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