domingo, 14 de julho de 2019

PROCURADOR BUSCOU FAMA COM A LAVA JATO.

Novas mensagens apontam que Deltan quis lucrar com fama e contatos obtidos através da investigação. (Foto: Andressa Anholete/AFP/Getty Images)
Mensagens apontam que o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, organizou um plano de negócios envolvendo eventos e palestras para lucrar financeiramente com a fama obtida por meio da operação.
De acordo com a reportagem, Deltan conversou com sua mulher, em dezembro de 2018, sobre a ideia de criar uma agenda de congressos e eventos com o objetivo de “lucrar”.
“Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, escreveu.
Ainda no mesmo mês, ele e outro integrante da força-tarefa, o procurador Roberson Pozzobon, criaram um grupo de mensagens destinado a discutir o tema, com a participação de suas esposas.
“Antes de darmos passos para abrir empresa, teríamos que ter um plano de negócios e ter claras as expectativas em relação a cada um. Para ter plano de negócios, seria bom ver os últimos eventos e preço”, disse Deltan Dallagnol no grupo. Pozzobon respondeu: “Temos que ver se o evento que vale mais a pena é: i) Mais gente, mais barato ii) Menos gente, mais caro. E um formato não exclui o outro”.
Os procuradores cogitaram ainda uma estratégia para criar um instituto e obter elevados cachês.
“Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”, comentou Deltan.
Em 14 de fevereiro de 2019, Deltan propôs que a empresa fosse aberta em nome de suas mulheres, com a organização dos eventos ficando sob responsabilidade da empresa Star Palestras e Eventos.
Deltan alertou para a possibilidade de a estratégia levantar suspeitas:
"É bem possível que um dia ela [proprietária da Star Palestras] seja ouvida sobre isso pra nos pegarem por gerenciarmos empresa", disse.
Pozzobon então comentou:
"Se chegarem nesse grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo rsrsrs. Que veeeenham".
No dia seguinte, 15 de fevereiro de 2019, Deltan sugeriu formar uma parceria com uma empresa de eventos e formaturas de um tio dele chamada Polyndia.
“Eles [Polyndia] podem oferecer comissão pra aluno da comissão de formatura pelo número de vendas de ingressos que ele fizer. Isso alavancaria total o negócio. E nós faríamos contatos com os palestrantes pra convidar. Eles cuidariam de preparação e promoção, nós do conteúdo pedagógico e dividiríamos os lucros", afirmou Deltan.
Já no último dia 3 de março, o procurador deu detalhes sobre um evento organizado por uma entidade que se apresentava como um instituto, comentando que esse formato também serviria para evitar questionamentos jurídicos e a repercussão negativa.
"Deu o nome de instituto, que dá uma ideia de conhecimento... não me surpreenderia se não tiver fins lucrativos e pagar seu administrador via valor da palestra. Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários", escreveu.
Em buscas nos registros na Junta Comercial do Paraná e em cartórios de Curitiba, o jornal Folha de São Paulo afirmou não ter encontrado, até então, a constituição de empresa de palestras em nome das mulheres dos procuradores ou de um instituto em nome deles.
A legislação proíbe que procuradores gerenciem empresas, permitindo somente que sejam sócios ou acionistas de companhias. Os chats, no entanto, indicam que Dallagnol ocupou os serviços de duas funcionárias da Procuradoria em Curitiba para organizar sua atividade pessoal de palestrante no decorrer da Lava Jato.

DESCONTENTAMENTO

Em fevereiro de 2015, o empenho de Deltan para sua agenda de cursos e viagens já gerava descontentamento entre os colegas procuradores do MPF (Ministério Público Federal) em Curitiba.
A justificativa dada por Deltan em uma conversa com procurador Carlos Fernando Santos Lima, em um chat no Telegram, é de que sua atividade compensava um prejuízo financeiro decorrente da Lava Jato.
“Estou a favor de maior autonomia, mas não me encham o saco, pra usar sua expressão, a respeito de como uso meu tempo. To me ferrando de trabalhar e ta parecendo a fábula do velho, do menino e do burro. Uns acham que devo atender menos a SECOM, outros que é importante. Uns acham que devo acompanhar cada um, outros acham que os grupos devem ter mais liberdade. E chega de reclamar dos meus cursos ou viagens. Evito dormir nos voos pra render. To até agora resolvendo e-mails etc”, desabafou Dallagnol.

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