A divisão do país se revela nas ruas. No domingo, 26/05, apoiadores de Jair Bolsonaro marcharam em favor do presidente, da reforma da Previdência de Paulo Guedes, do pacote anticorrupção de Sergio Moro, contra o centrão, contra o suposto boicote do Congresso e do Executivo ao rolo compressor do governo.
Cada ponta tem um eixo de tração. Os primeiros falam na defesa da Lava Jato e se afastam de quem não oferece apoio amplo, geral e irrestrito ao capitão, inclusive o papa, que na semana enviou uma carta camarada ao ex-presidente Lula, preso em Curitiba.
Os segundos aglutinam lideranças à esquerda, movimentos sociais e no fluxo levantam também bandeiras como o Lula Livre.
Nada de novo no front, diria um observador desatento: o Brasil está milimetricamente dividido há anos, mais precisamente desde as eleições de 2014.
Digo desatento porque, embora os polos sigam magnetizados, eles já não têm os mesmos pilares.
Nas pontas das manifestações de rua, um ator fundamental até pouco tempo parece fora do jogo - ao menos do enfoque.
Esse ator é o PSDB.
Desde 2018, a leitura mais elementar é que o partido perdeu terreno para o bolsonarismo, que se aninhou ao PSL e fez do partido o grande polo anti-PT.
Nesse embate de forças, o PSDB parece ter sido engolido pela nova configuração de forças no país, que se organiza em gritos cujos decibéis a legenda até tentou, mas nunca alcançou.
Nesse processo o PSDB está relegado a ser coadjuvante, certo?
Muito cedo para falar - mesmo com o fiasco de Geraldo Alckmin na campanha à Presidência, quando somou 5% do total de votos, e o encolhimento da bancada na Câmara, que de 54 deputados eleitos em 2014 passou a 29 na eleição seguinte.
Seria o fim da linha, ou um baque e tanto em direção ao triste fim, se não fosse a eleição em São Paulo. O estado mais rico da federação é governado por tucanos desde 1994.
Do Palácio dos Bandeirantes o partido recolhe os cacos e toma embalo para 2020, quando o Brasil vai às urnas eleger seus novos prefeitos e vereadores, e 2022, quando não se sabe quantas avarias no tecido político serão desferidos na briga entre a esquerda e o bolsonarismo.
Quem lidera esse movimento é o governador João Doria, que mal disfarça a intenção de chegar ao Planalto. É ele quem comanda a renovação da legenda, desgastada por escândalos de corrupção envolvendo antigos caciques, como os ex-governadores Beto Richa (Paraná) e Aécio Neves (Minas Gerais), o ex-futuro-presidente-do-Brasil que resolveu pedir em voz alta dinheiro para os donos de um frigorífico suspeito, e não ao banco, e agora tem milhões bloqueados pela Justiça.
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