segunda-feira, 17 de agosto de 2015

DILMA PODE DEIXAR O P.T.

Na matemática política atual, a relação entre a presidente Dilma Rousseff e o PT traz prejuízos a ambos. Dilma atribui parte da rejeição sofrida por ela à associação de seu nome ao do partido, manchado pelos escândalos de corrupção que atingiram seus principais dirigentes. Não por acaso, alguns auxiliares de Dilma apontam que uma das saídas para a crise seria o afastamento dela da legenda. O PT, por sua vez, teme que o partido seja contaminado pelas trapalhadas do governo, reprovado hoje por 71% dos brasileiros. Entre os petistas já há quem defenda, intramuros ou até publicamente, a renúncia de Dilma. Dessa forma, acreditam os entusiastas dessa tese, o partido teria tempo hábil para tentar se reabilitar visando às eleições municipais de 2016 e presidenciais de 2018. Hoje, dirigentes da legenda vislumbram um massacre da oposição nos próximos dois pleitos. O desespero do PT guarda relação com a deserção em massa da legenda verificada nos últimos quatro meses. De abril para cá, nada menos do que 5.267 políticos deixaram o PT para concorrer às eleições do ano que vem por outras agremiações. A justificativa de quem sai, em geral, é o medo de perder as eleições por estarem ligados a um partido e a um governo altamente impopulares.
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Após 32 anos de PT, o vice-prefeito de Jundiaí (SP) Durval Orlato deixará a legenda este ano. Segundo Orlato, os políticos que ingressaram no partido durante a gestão popular de Luiz Inácio Lula da Silva são os que mais sentiram a crise vivida pelo governo Dilma. “O fato de Dilma ter aplicado medidas econômicas que não divulgava na campanha acirrou os ânimos da oposição. Algumas pessoas veem a situação do partido fragilizada em razão dos erros da presidente. Quem entrou no partido há cinco anos vincula o momento ruim do PT à situação periclitante do governo”, diz. O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, é outro que ensaia a saída do PT. Prefeito da capital da Paraíba em primeiro mandato, ele vê sua popularidade ser minada pela rejeição a Dilma Rousseff. Nos últimos dias, ele chegou a acenar para uma aliança com o PSDB de Cássio Cunha Lima para as eleições de 2016, mas a hipótese foi descartada pelo tucano. Para manter viável a possibilidade de se reeleger no ano que vem, Cartaxo flerta com o PSD. Também ameaçam abandonar o barco, antigos aliados do ex-ministro José Dirceu. A exemplo de Dirceu, preso pela segunda vez há duas semanas, acusado de corrupção, eles atribuem à omissão de Lula e Dilma o fato de o PT ter ganhado a pecha de corrupto. “Dilma, principalmente, jogou o PT aos leões. Não fez nada para proteger o partido e sempre que pode tenta se desvincular da legenda, como se o partido não fosse o responsável por sua reeleição”, afirmou um petista ligado ao ex-ministro da Casa Civil, que pediu para não ser identificado. Os correligionários que ficam, por força do mandato ou por questões ideológicas, não poupam críticas a presidente. “A economia está indo para um lado que não foi o que construímos. Você sai na rua e o povo fala que a vaca tossiu. Isso representa muito para a nossa base. Como vamos defender Lula e Dilma se a base social não vier?”, questiona o vereador Lineu Navarro, do PT de São Carlos (SP).
Integrantes da velha guarda petista vem torpedeando o governo publicamente. “Não adianta fazer cara de paisagem. Alguma coisa tem de ser feita. Ou ela faz uma mudança de rota, muda a receita do ajuste etc., ou ela pega a caneta e fala ‘vou pra casa, não dou conta’. Eu tenho esse temor”, afirmou Frei Betto, amigo do ex-presidente Lula, de quem foi assessor especial no início do mandato. “Eu não sei o que de positivo a Dilma fez de janeiro para cá. Gostaria que alguém dissesse. O ajuste é necessário? É necessário. Mas o ônus é só sobre o trabalhador”, acrescentou Betto.

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