"Isso é negligência. Minha irmã não sabia do risco que estava correndo", diz Leo Ávila, 39, que nesta sexta foi outra vez a um centro montado pela mineradora para atender familiares em Brumadinho.
Leo reclama do fato de o refeitório ter sido construído logo abaixo da barragem. Após buscar em vão por notícias da irmã, Angélica Ávila, ele queria saber como obter cópia do relatório de emergência revelado pela Folha nesta sexta (1). O documento previa o risco.
Ex-funcionário terceirizado da mina, Carlos Pereira, 38, lamenta a morte de quem ignorava estar na rota da lama. Sua irmã, a auxiliar de cozinha Carla Pereira, 37, desapareceu. "Fui motorista de veículo grande, transportei lama, sei o peso. Imagina quem passava o dia cortando tomate. Não sabiam de nada".
No vilarejo de Córrego do Feijão, onde ficava a mina, quem não tem mais esperança se esconde em casa para chorar os mortos, enquanto as viaturas de polícia e bombeiros, ambulâncias, carros de reportagem e caminhões continuam a circular.
"Não é o sol, não é o calor. Ninguém está saindo de casa é por tristeza", diz Hilton Souza Ribeiro, dono da Mercearia Tote, no centro da vila.
Perto dali, no Centro Comunitário de Córrego do Feijão, se instalaram os comandos dos bombeiros e da polícia. No gramado ao redor estão barracas da defensoria pública, do registro civil e de psicólogos voluntários.
Alguns moradores, como a enfermeira Adriana Belo, 39, agora convivem com a sombra da tragédia evitável. Seu primo, o ajudante geral desaparecido André Luiz Carlos, 22, dizia que "mais dia menos dia a barragem iria ceder". Adriana agora questiona se o local do refeitório era adequado.
O porta-voz da Defensoria Pública mineira, que presta atendimento aos familiares das vítimas, diz que à primeira vista, o relatório mostra uma situação grave. "Isso deve ser investigado. Se havia previsibilidade de que havia esse risco e nada foi feito, é algo grave"
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