sábado, 1 de agosto de 2015

DIÁLOGO IMPOSSÍVEL ENTRE LULA E FHC

Forjados no mesmo berço político, a esquerda paulista, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva são uma espécie de irmãos Karamázov da política brasileira. Como os personagens do romance de Dostoiévski, FHC e Lula reuniram predicados e exibiram visões de mundo que os aproximaram no passado. Em 1978, primeiro ano das greves do ABC, Lula chegou a participar da campanha de FHC ao Senado. O então líder sindical foi quem apresentou o acadêmico às portas de fábrica. Juntos, panfletaram pelas ruas de São Paulo. Embora estivessem unidos no começo de suas vidas públicas, os dois, como os irmãos Karamázov, nunca mais convergiram na forma de pensar política. Há pelo menos duas décadas, FHC e Lula trilham caminhos opostos e defendem idéias e projetos completamente distintos para o País. Nos últimos tempos, distanciaram-se de tal maneira que inviabilizou qualquer diálogo entre os dois sobre o futuro do Brasil, como o imaginado e proposto há duas semanas por Lula.
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Os reais propósitos do petista, ao planejar o encontro, ilustram bem o abismo existente hoje entre os dois principais líderes do País. Atualmente, enquanto Fernando Henrique apresenta alternativas para livrar o Brasil da crise política e econômica e demonstra preocupação com a manutenção do equilíbrio entre os poderes e com a saúde das instituições, Lula manda às favas as boas práticas republicanas. O petista articula nos bastidores toda a sorte de pressões sobre órgãos do Legislativo e Judiciário, como o TCU e o STF, onde o destino da presidente Dilma Rousseff será jogado no próximo mês. No Instituto Lula, transformado em bunker desde sua saída do poder, o ex-presidente orienta correligionários a trabalhar no Parlamento contra a rejeição das contas de 2014 do governo, caso o TCU as reprove e o assunto ganhe o rumo do Congresso, foro capaz de propor o impeachment de Dilma. A reunião com FHC faz parte deste contexto. Hoje, o pretenso diálogo buscado por ele com a oposição tem como único e real objetivo a tentativa de salvar a pele de Dilma, às voltas com a ameaça de afastamento, e a de si próprio. Diante de um erro tão surpreendente quanto primário do petista, qual seja, o de apresentar uma proposta com evidentes traços oportunistas num momento de fragilidade de uma presidente que ele próprio legou ao País, coube a FHC elevar o patamar do debate. “O momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Qualquer conversa não pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo”, afirmou o tucano.

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