domingo, 28 de janeiro de 2018

O ZELADOR DO TRIPLEX DE LULA.

ZELADOR JOSÉ AFONSO PINHEIRO (Foto: MAURÍCIO DE SOUZA/ESTADÃO CONTEÚDO)
"Alô, seu José?”

“Peraí, vou te passar para minha advogada.”

É uma saudação inusitada para um zelador. Mas seu Zé Afonso não é um zelador ordinário. Primeiro porque, de saída, ele pede para derrubar o “seu” e o “Zé” da conversa, títulos máximos da zeladoria brasileira. “Me chama de Afonso” (ÉPOCA pede desculpas. Por normas internas, não pode atender ao pedido: precisa chamar seu Zé Afonso pelo sobrenome, Pinheiro). Segundo, porque o aposto que o define melhor é o que ele levou para as urnas eletrônicas quando se candidatou a vereador em 2016, em Santos, com o número 11333: Afonso Zelador do Tríplex. O adjetivo de origem no latim é hoje referência geográfica e política. O brasileiro sabe da existência de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral paulista, cuja posse é objeto de um dos processos judiciais mais importantes da história do país. Sabe do imbróglio que envolve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de receber o tríplex e melhorias no imóvel da empreiteira OAS em troca de beneficiá-la em contratos com o governo federal. Sabe que, na quarta-feira, dia 24, os desembargadores do Tribunal Regional da 4ª região não só cofirmaram a condenação de Lula, proferida inicialmente pelo juiz Sergio Moro, como aumentaram sua pena de nove para 12 anos. O brasileiro sabe quem é Pinheiro, o zelador do tríplex.
O que talvez não seja tão óbvio é o motivo para um zelador andar escoltado por uma advogada. Pinheiro foi peça vital no processo que correu na Vara de Moro, em Curitiba. Ele foi testemunha ocular da presença de Lula e de Marisa Letícia no Condomínio Solaris em mais de uma ocasião. Em 23 de outubro de 2015, Pinheiro prestou um depoimento aos promotores Cássio Conserino, Fernando Henrique Araujo e José Carlos Blat no salão de festas do prédio. Disse que Marisa Letícia “chegou a frequentar o espaço comum do edifício indagando sobre o salão de festas, piscina, áreas comuns”. Disse que “os familiares do ex-presidente chegavam em um Passat preto e em um carro prata”, cercados de “três ou quatro” seguranças. Pinheiro narrou como a OAS preparava o Solaris para receber a caravana presidencial, com uma limpeza caprichada e flores, e bloqueava o uso dos elevadores para que a família Lula da Silva não fosse perturbada.
O zelador informou que ninguém mais frequentava o tríplex. Não havia qualquer sinal de que o imóvel estivesse à venda. Um funcionário da OAS chamado Igor “pediu para que (Pinheiro) não falasse nada, ou seja, que o apartamento seria do Lula e da esposa, mas, sim, deveria dizer que é pertencente à OAS. Esse pedido aconteceu depois do Carnaval de 2015”. Em 9 de março de 2016, com base nesse e em outros depoimentos e em documentos e provas, o Ministério Público apresentou denúncia contra o ex-presidente Lula por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica na ocultação desse patrimônio. Menos de um mês depois, Pinheiro foi demitido

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