terça-feira, 24 de abril de 2018

FILME SOBRE O IMPEACHMET DE DILMA CHEGA AO BRASIL

Enfim chega ao Brasil um dos filmes mais aguardados de todos os tempos para o nosso povo, “O Processo” de Maria Augusta Ramos, aclamado no último 68º Festival de Berlim e premiado com o terceiro lugar pelo voto popular, presente agora na programação do maior Festival de documentários da América Latina, o É Tudo Verdade, e em breve estreando no circuito comercial de salas de cinema no dia 17 de maio deste ano. E este que vos escreve esteve presente tanto na primeira exibição mundial do filme na Berlinale quanto em sua chegada no Brasil, com recepções ovacionadas em todos os espaços lotados. Não apenas por pessoas inteiradas da situação política do país, como também por leigos, vide o caso da exibição no exterior que contou com muitos alemães, turistas de outros países e mesmo realizadores da América Latina que também estavam competindo em Berlim e queriam conferir “O Processo”. A questão é que Maria Augusta e sua montadora Karen Akerman tiveram de traçar uma linha narrativa coerente e cronológica, com pungência o bastante para formar um longa-metragem, desbravando por todo o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff em mais de 400 horas registradas por sua equipe (formada em sua maioria de mulheres, por sinal, o que fez toda a diferença para o ‘olhar opositivo’ contestador e crítico para o que se estava captando, como diria a pensadora bell hooks). Sem falar na disponibilidade quase infinita de acervo de arquivo, de jornais a canais televisivos como da TV Senado, ou mesmo de inúmeras outras equipes também filmando a política do país, para outros filmes concomitantes ou outros trabalhos… Dezenas de câmeras todos os dias por vários ângulos numa narrativa que até agora só havia sido contada pelos “vencedores”… ou deveria se dizer: “golpistas”? Ou mesmo “usurpadores”? Então, o que estaria se perdendo entre tantas imagens que talvez não deixassem um ângulo escapar sob tantos olhares?
Estamos vivendo uma disputa de narrativas. Isto é um fato. Porém, acrescenta-se a isto que não se trata de uma disputa justa. Por um bom tempo andamos sendo expostos ao “perigo da história única”, parafraseando a máxima bastante pertinente da escritora africana Chimamanda Ngozi Adichie. As grandes redes de comunicação, impressas e televisivas, receberam muitos incentivos dos últimos governos democráticos que priorizaram acesso à informação e liberdade investigativa, mas as mesmas redes não devolveram absolutamente nenhuma responsabilidade inerente a estas informações prestadas. Como se fossem aquele tipo de documentarista que filma a fome e a pobreza, polui o ambiente ao redor dos documentados, afeta o meio, consome os mesmos recursos que ali estão em jogo, e depois vai embora sem se preocupar no valor da imagem captada e do seu uso potencialmente transformador. Contanto que lucre com a ultraexposição e a coisificação do que antes eram sujeitos de direito — ora transformados em produtos. Produtos na vitrine. Vitrines isoladas. Um produto não pode contaminar o outro, como carnes expostas, pois possuem valores diferentes, de acordo com o quão difícil foi pagar o fornecedor e o abatedouro, e, como estamos lidando com carne humana…alguém teve de se tornar a caça e outrem o caçador. Foi assim que foram feitos negócios lucrativos pelo monopólio da imagem, e que vem sendo tratada como imagem única, sem mostrar os outros lados espelhados desta vitrine de consumo instantâneo e descartável.
A primeira prova cabal desta inversão de valores no filme “O Processo” já começa com a filmagem do fatídico dia da votação da Câmara dos Deputados pelo acolhimento ou não do Impeachment… E que dia

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