domingo, 23 de junho de 2013

PRESIDENTA SE CURVA AOS PROTESTOS DE RUA.


Presidente Dilma Rousseff faz pronunciamento em rede nacional, sobre os protestos do país
Presidente Dilma Rousseff faz pronunciamento em rede nacional sobre os protestos do país (Reprodução)
Depois de uma quinta-feira de extrema tensão em que a presidente Dilma Rousseff viu chegar à sua porta a onda de protestos que varre o Brasil com dezenas de demandas e forte sentimento de rejeição à classe política, uma rede nacional de rádio e televisão foi convocada, às 21h desta sexta-feira, para que ela se dirigisse ao país. A fala de dez minutos teve dois eixos: Dilma afirmou reiteradas vezes que seu governo está "ouvindo as vozes democráticas que pedem mudanças", mas também demonstrou grande preocupação com a segurança e com o "primado da lei e da ordem".
"Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia", afirmou.
Uma terceira parte do seu discurso foi dedicada às promessas - algumas bem requentadas. Ela afirmou que convidará governadores e prefeitos das grandes cidades para "um grande pacto em torno melhoria dos serviços públicos". As prioridades seriam a formulação de um plano nacional de mobilidade urbana em conjunto com estados e municípios, a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação e a despropositada contratação de milhares de médicos estrangeiros para atender a demanda dos rincões do Brasil.

Chamou a atenção a ênfase dada pela presidente ao "barulho e a truculência de alguns arruaceiros". De fato, a opção por fazer o pronunciamento começou a ser tomada na noite de ontem enquanto Dilma, no Palácio do Planalto, acompanhada por alguns assessores mais próximos, assistia aos protestos que se desenrolavam a 700 metros do seu gabiente e em uma centena de outras cidades pelo país. A violência que se desdobrou no Rio de Janeiro foi decisiva. Dilma conversou com o governador do Rio de Janeiro, Sério Cabral (PMDB), que lhe transmitiu um relato alarmante sobre a depredação nas ruas da capital fluminense - acontecimentos muito mais chocantes do que as televisões exibiam ao país. Não por outro motivo, a reunião na manhã desta sexta-feira foi com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Ao longo do dia, o discurso foi esculpido pelas mãos do marqueteiro João Santana e mostrado a diversos ministros antes de uma gravação feita em estilo "ao vivo". 
A violência também parece ter alarmado o governo pelo efeito que pode ter sobre a imagem do país - jornais internacionais de todo o mundo têm dado cobertura ampla aos protestos e ressaltado que estilhaçam a imagem de um Brasil em que tudo vai bem. "Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil", disse Dilma. Em referência à Copa das Confederações e à Copa do Mundo de 2014, ela pediu uma "acolhida generosa aos povos irmãos" e que sejam tratados "com respeito os nossos hóspedes".
O repúdio manifestado nas ruas aos políticos e partidos - em especial ao PT, partido da presidente, que por décadas se arvorou no papel de porta-voz dos anseios populares - também ensejou uma menção da presidente: "É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático".
Este foi o quarto pronunciamento em rede nacional de Dilma neste ano. O primeiro deles foi marcado pelo tom agressivo e pela retórica do "nós contra eles", ou seja, direcionado a atacar a oposição ao seu governo, chamados por ela de "do contra". Nas duas falas seguintes, Dilma baixou o tom e se limitou a exaltar feitos de sua gestão e a anunciar medidas de forte impacto no eleitorado, como a desoneração de produtos da cesta básica. Às vésperas do início das passeatas no país, Dilma ostentava índice próximo de 60% de aprovação nas pesquisas de opinião, ainda que com viés de queda. Foi um caminho surpreendente o que levou Dilma Rousseff do seu primeiro pronunciamento, em janeiro, à fala desta sexta-feira, concluída com um enfático "Eu estou ouvindo vocês!

Nenhum comentário:

Postar um comentário