sexta-feira, 10 de maio de 2013

DILMA RECEBE "MADURO" COM POMPA.



Presente. Após discurso, Maduro entrega a Dilma foto de Hugo Chávez, morto em março
Foto: Givaldo Barbosa
Presente. Após discurso, Maduro entrega a Dilma foto de Hugo Chávez, morto em março Givaldo Barbosa
BRASÍLIA — Alheia às contestações na Justiça venezuelana à legitimidade da vitória de Nicolás Maduro - e às novas críticas do opositor Henrique Capriles sobre o apoio incondicional do governo brasileiro ao chavista -, a presidente Dilma Rousseff recebeu nesta quinta-feira o sucessor de Hugo Chávez com honras de Estado no Palácio do Planalto. Maduro subiu a rampa do palácio e lá do alto, ao lado de Dilma, ouviu o hino de seu país e o do Brasil. Junto com a presidente, dez ministros o saudaram. O venezuelano agradeceu o carinho que o governo petista sempre teve com Chávez e com o povo da Venezuela, especialmente durante a “dor” da perda do líder bolivariano, morto há dois meses. Maduro aproveitou para defender o processo eleitoral que o levou ao poder.

Nem Maduro, nem Dilma comentaram a nova entrevista de Capriles, publicada pelo jornal espanhol “El País”. À publicação, o opositor afirmou que, caso fossem anulados os resultados das seções eleitorais nas quais teria havido irregularidades, ele venceria o pleito com uma vantagem de 400 mil votos - maior do que a obtida por Maduro, inferior a 300 mil. O opositor também criticou o Brasil, segundo ele um país de política “atada à economia e não aos princípios”, por ter apoiado a posse de Maduro.- Construímos um sistema eleitoral quase perfeito. Nosso país é um país profundamente democrático, com um sistema moderno, avançado, automatizado e confiável. Nesses últimos meses de dor, esta foi uma eleição que democraticamente ratificou um rumo. Hoje estamos construindo um governo para todos todos os venezuelanos - disse.
Pedido de ajuda agrícola
Capriles ainda questiona na Justiça o resultado das eleições que levaram o presidente venezuelano ao poder, mas já admitiu que não acredita numa vitória judicial em seu país, afirmando que pretende levar suas reivindicações a cortes internacionais. A oposição acabou rejeitando a auditoria dos votos determinada pelo Conselho Nacional Eleitoral, controlado por funcionários simpáticos ao chavismo, depois de uma pressão do Brasil e outros países aliados para que Maduro fizesse algum tipo de concessão à oposição para acalmar o clima de tensão social que tomou a Venezuela após as eleições.
Apesar do apoio oficial do governo brasileiro, Maduro não passou imune a protestos em sua visita ao Brasil. Na Praça dos Três Poderes, um pequeno grupo de manifestantes contra Maduro assistiu à chegada do venezuelano ao Planalto.
Maduro encerrou em Brasília um tour de três dias pelos países do Mercosul, buscando consolidar o apoio regional, um contraste aos questionamentos internos. Antes de se encontrar com Dilma, ele se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Embaixada da Venezuela em Brasília. Maduro disse que passou uma hora ouvindo conselhos do petista, a quem chamou de pai - ele também se diz “filho de Chávez”.
- Hoje vimos o companheiro Lula e ele nos deu um banho de sabedoria. Ele passou uma hora dando conselhos de sua experiência. Nós vemos Lula como um pai. O pai dos homens e mulheres de esquerda. É uma sorte enorme tê-lo - afirmou Maduro.
Dilma desejou sucesso a Maduro em seu governo e lembrou que a Venezuela assumirá a presidência temporária do Mercosul, em junho. Segundo ela, os dois países compartilham o desejo de fortalecer a união da região.
- Presidente Maduro, esse desafio, da união regional, sonho de todos os nossos antepassados e frustração de tantas gerações tem sido encaminhado por todos nós. Nossos países estão mostrando essa vocação para criar um futuro comum, que una toda a nossa região, que contribua para um mundo multipolar, sem espírito de confrontação, sem pretensão hegemônica e sem ingerência externa. A Venezuela e o Brasil têm um papel fundamental nessa caminhada - discursou.
Os dois países acertaram parcerias em projetos em diversas áreas, especialmente a agrícola e energética. A Venezuela quer ampliar sua produção de alimentos, e para isso confiará na Embrapa. Já o Brasil conta com a parceria que o governo de Maduro fará com a brasileira Braskem para produzir fertilizantes feitos com ureia. O venezuelano admitiu que seu país enfrenta um problema de alimentos e que o Brasil poderá ajudar a transformar essa situação no “curtíssimo prazo”. A Venezuela vai abrir dez indústrias a serem inauguradas nos próximos meses. A usina de fertilizantes teria a capacidade de produzir 1,5 tonelada do produto por ano, e também contará com a participação da Odebrecht.
A ênfase no lado comercial da visita tem a ver com o atual panorama da economia venezuelana, que, se já vivia problemas sob Chávez, acelerou seu declínio nos últimos meses, sob o comando de Maduro. De acordo com números oficiais, o índice de escassez, que mede a falta de produtos no varejo, está em níveis comparáveis aos de 2007, quando houve um prolongado desabastecimento de alimentos básicos que teve um reflexo político na única derrota eleitoral do então presidente Hugo Chávez: ele perdeu no referendo em que pedia a reeleição indefinida, aprovada dois anos depois em outra consulta popular. Além disso, a inflação no país subiu 4,3% em abril, segundo o Banco Central da Venezuela - o maior avanço em três anos - e a taxa anualizada chegou a 29,4%. Já o acumulado nos quatro primeiros meses soma 12,5%, o triplo do mesmo período do ano passado.


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