quarta-feira, 29 de março de 2017

LAVA JATO DEFLAGRA NO RIO OPERAÇÃO QUINTO DO OURO

Há meses todos que participam da política (e do submundo dela) do Rio sabiam que o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Jorge Picciani, do PMDB, seria alvo de alguma ação policial rigorosa no curto prazo. Comandante mais longevo da Alerj, figura mais poderosa no governo atual, Picciani não tinha como escapar dos efeitos da delação premiada do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado Jonas Lopes, que entregou um esquema de cobrança de propina na repartição. Por isso, a condução coercitiva de Picciani para depor na Polícia Federal nesta quarta-feira (29) não surpreendeu. O que ela cria, no entanto, é um vácuo de poder em um ambiente institucional já depauperado.
O Rio está falido. Sem dinheiro para pagar funcionários e sem perspectiva da desejada ajuda do governo federal, todos os dias o estado passa raspando na beira do abismo. Encurralado por esta crise econômica e pelas investigações da Operação Lava Jato, o governador Luiz Fernando Pezão, colega de Picciani no PMDB, viu seu poder escorrer pelo ralo. Picciani assumiu esse poder. Ele é – ou era até esta manhã – o político mais forte do Rio, talvez o único. Pertence a ele a maior parte dos cargos públicos de relevância no governo estadual, entregues por Pezão nos últimos meses em troca de apoio na Assembleia para aprovar medidas impopulares, destinadas a reduzir o rombo financeiro do estado. Agora, o dono desses cargos tende a perder boa parte da força.
O prejuízo será de Picciani e do governo Pezão, agora um ente só. Há um mês, num lance ousado, Picciani aprovou em uma hora a licença para o governo privatizar a Cedae, a estatal de abastecimento de água e esgoto, essencial para tentar recuperar o caixa do estado. Desde esta manhã, a força de Picciani para comandar o plenário na aprovação de outras medidas difíceis, essenciais a Pezão, fica abalada. Picciani caiu na situação na qual já está Pezão, a do político investigado e que os colegas passam a enxergar como não tão poderoso assim. Neste terreno já afundou o ex-governador Sérgio Cabral, também do PMDB, preso em Bangu.
Jorge Picciani, presidente da Alerj, chega na Polícia Federal em condução coercitiva (Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo)

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