terça-feira, 31 de julho de 2018

CENTRÃO PODE ATRAPALHAR ALCKMIN NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS


O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, marcou um gol em termos pragmáticos ao obter o apoio do “centrão”. Com uma só tacada, o tucano conseguiu sepultar a candidatura de Rodrigo Maia (DEM), que disputaria com ele o mesmo eleitorado, e juntou a seu tempo de televisão segundos preciosos que poderão fazer a diferença na disputa por uma das vagas no segundo turno. Por outro lado, ficou mais difícil para Alckmin articular duas ideias que parecem centrais em sua campanha.
A primeira delas é a tese de que Alckmin não é uma continuação do governo de Michel Temer (MDB).
De fato, o tucano manteve uma espécie de “cordão sanitário” diante do impopular presidente e procurou em seus últimos meses de governo se apresentar como uma alternativa ao atual mandatário, fazendo críticas discretas e apontando diferenças entre os dois.
O problema para Alckmin é que seu partido, o PSDB, deteve por muito tempo o maior número de ministérios na gestão atual. Fundamental no impeachment de Dilma, os tucanos aderiram rapidamente ao governo após sua derrubada.
O apoio do “centrão” atrapalha ainda mais a estratégia de se afastar de Temer porque o grupo formado por partidos como DEM, PR, PP e PRB foi essencial para sustentar o governo, tanto para impedir o andamento das ações judiciais contra Temer quanto para aprovar projetos.
Em troca, o centrão desfrutou da única coisa que lhe interessa, os cargos e verbas que o Planalto pode distribuir. Uma busca no Google por “centrão, Temer, ministérios” mostra como o atual presidente loteou cargos para esse grupo.
O fato de Henrique Meirelles ser o candidato do MDB e, portanto, oficialmente o nome da continuidade, não deve ajudar muito Alckmin a explicar a proximidade de seu partido e de muitos aliados com o rejeitado Temer.
Outra ideia relevante na campanha de Alckmin que fica prejudicada com a adesão do “centrão” a sua candidatura é a suposição de que ele seria um candidato de “centro”. Como abordado neste espaço em outras ocasiões, a tese nasce de uma tentativa de apontar o ex-presidente Lula (PT) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) como os dois polos do sistema político brasileiro.
Poucas concepções são mais fantasiosas do que esta. Bolsonaro certamente é um extremista de direita, mas Lula está bem longe de ser um candidato da extrema-esquerda. Esse pedaço do espectro político talvez seja ocupado pelo irrelevante PSTU, mas apenas para ficar em candidatos mais viáveis pode-se apontar para Guilherme Boulos, do PSOL, como um nome mais à esquerda do que Lula.
Para além das nomenclaturas ideológicas, qualquer análise sobre a política brasileira deve levar em conta a realidade. E, ainda que Alckmin esteja mal nas pesquisas, PT e PSDB continuam a ser os polos do nosso sistema, um mais à esquerda e outro mais à direita, mas ambos tentando atrair o centro.
O centrão, apesar de seu apelido, é um bloco de centro-direita, com mais afinidades ideológicas com o PSDB do que com o PT. Devido a sua natureza fisiológica, e à frouxidão moral petista, centrão e PT estiveram por muito tempo aliados em uma associação que culminou no escândalo do “mensalão”.
Da mesma forma, é preciso dar a Bolsonaro sua colocação real na política. A força que ele demonstra atualmente é fruto de vários fatores, o maior deles o desgaste da política tradicional, mas também do antipetismo, um fenômeno que se consolidou na última década. O antipetismo costumava render dividendos eleitorais ao PSDB, mas agora, pela mudança na conjuntura e pela personalidade de Bolsonaro, pende para o deputado.
A própria lógica que permeia os debates de muitos apoiadores de Bolsonaro ajuda a demonstrar que Alckmin ser de centro é uma construção artificial. Para muitos potenciais eleitores do deputado federal, PT e PSDB são “farinha do mesmo saco”. Em linhas gerais, essa turma não deixa de ter razão e tal impressão, em maior ou menor medida, pode ser referendada inclusive por muitos eleitores que têm ojeriza a Bolsonaro.

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