segunda-feira, 6 de março de 2017

A OPERAÇÃO LAVA JATO ESTÁ ENTRINCHERADA

Heuler Andrey
 
O discurso de que a Operação Lava-Jato atravanca a retomada da economia no país, conjugado com a virtual queda de interesse das pessoas sobre o tema do enfrentamento à corrupção e a articulação crescente de políticos emparedados pelo escândalo para aprovar leis de salvaguarda aos investigados, colocaram os procuradores da força-tarefa, em Curitiba, na defensiva.

“Estão tentando um esvaziamento lento e gradual da operação, mas a Lava-Jato tem força própria.” A opinião do mais antigo dos procuradores da força-tarefa, que investiga a corrupção na Petrobras, Carlos Fernando dos Santos Lima, é fruto de tensão ímpar que tomou o QG da Lava-Jato, no sétimo e no oitavo andares do Edifício Patriarca, região central de Curitiba, neste início de 2017.

Às vésperas de completar três anos de investigação, a força-tarefa da Lava-Jato está entrincheirada, à espreita do mais pesado bombardeio a enfrentar — fruto da reação de políticos com o avanço dos processos, no Supremo Tribunal Federal (STF), e do “tsunami” que representará a delação premiada da Odebrecht.

Financiamento

Dos três fatores que representam um risco para a Lava-Jato, na avaliação de integrantes da força-tarefa, a narrativa propalada para a opinião pública, de abusos jurídicos e de que a operação é a responsável pela crise econômica do Brasil, é o que mais preocupa.

“O sistema político disfuncional é o que atrapalha a economia, não a Operação Lava-Jato”, diz Lima. Aos 52 anos e prestes a se aposentar, o tom efusivo e as bochechas avermelhadas do procurador são os sinais mais aparentes da preocupação que aflige a equipe diante desse “inimigo oculto”. Formada por 13 procuradores da República, que atuam exclusivamente no caso, a avaliação comum entre integrantes da força-tarefa é de que a “corrupção enfraquece o potencial competitivo da indústria nacional” e, por isso, precisa ser atacada — mesmo que gere um período de efeitos negativos na economia.

“Precisamos resolver isso. É possível manter um bom desempenho econômico por um, dois, cinco anos por conta de commodities, boom no exterior, entrada de dólares. Mas basta uma queda, e o sistema político disfuncional vai se revelar e desestabilizar a situação”, diz Lima. Para o procurador, o “sistema disfuncional” é o que usa a corrupção como forma de financiamento político e eleitoral, num ciclo em que empresas abastecem esse caixa paralelo em troca de negócios com os governos. “Mantida a situação atual, de corrupção e deturpação do regime democrático, outras crises econômicas virão”, alerta

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