terça-feira, 7 de março de 2017

GRAMPO ILEGAL NA POLÍCIA FEDERAL DENTRO DA LAVA JATO

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Youssef: principal delator da Lava Jato, ele foi alvo de uma escuta ilegal

A estranha história de um grampo clandestino colocado pela Polícia Federal (PF) na cela do doleiro Alberto Youssef nos primórdios da Operação Lava Jato voltou à tona neste ano. Objeto de duas sindicâncias pouco esclarecedoras, o tema agora é tratado em um inquérito policial. 
Pode ser só coincidência, mas ao mesmo tempo em que o assunto ressuscita, surgem rumores sobre a saída do chefe da PF, o longevo Leandro Daiello, o qual, para certos delegados antipáticos a ele, deveria no mínimo ser convocado pelo Congresso para dar explicações sobre o episódio. 
grampo na cela de Youssef na carceragem da PF no Paraná foi instalado no dia da prisão do doleiro, 17 de março de 2014, data em que a Lava Jato foi às ruas pela primeira vez. Funcionou por alguns dias, até ser descoberto pelo detento. 
Uma sindicância foi aberta ainda em 2014 para apurar o caso. No comando, o delegado Mauricio Moscardi, uma das estrelas da Lava Jato. Conclusão dele: a escuta era velha, estaria ali desde a passagem do traficante Fernandinho Beira-Mar pela carceragem paranaense da PF, em 2008. 
Para embasar seu relatório, Moscardi usou, entre outras coisas, um parecer do agente especialista em escutas lotado na PF no Paraná, Dalmey Werlang. Segundo o parecer, o equipamento poderia ser de fato antigo. 
Mais tarde, Werlang admitiu ter sido ele o instalador do grampo. E que o fizera na época da prisão de Youssef, por ordem de cima. Contou isso, por exemplo, em julho de 2015, em depoimento a uma CPI da Petrobras criada naquele ano na Câmara dos Deputados. 
Na CPI, o agente deu nome aos bois. A ordem teria partido dos delegados Rosalvo Franco, chefe da PF no Paraná, Igor Romário de Paula, chefe da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado no estado, e Marcio Anselmo, chefe do inquérito original da Lava Jato. 
A CPI convocou Moscardi e Franco. Mas eles recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de habeas corpus. Não queriam depor e, se tivessem de comparecer, pediam para ser dispensados de dizer a verdade. Conseguiram um HC para não dizer a verdade.
Em seu relatório final, de outubro de 2015, a CPI recomendava à Procuradoria Geral da República que acompanhasse o caso, “devido à probabilidade de os delegados da Polícia Federal terem realizado a coleta ilícita de provas da Operação Lava Jato”.
Uma segunda sindicância da PF foi instaurada em 2015. Ficou a cargo do delegado Alfredo Junqueira, da Corregedoria. Foi concluída sem apontar quem teria dado ordens a Werlang, embora reconheça que ele não agira por conta própria.
Junqueira propôs um processo disciplinar contra Moscardi, o chefe da primeira sindicância, por negligência. E um inquérito policial contra Werlang, por “falsidade ideológica”, afinal, o agente assinara o parecer suspeito usado por Moscardi sobre a possibilidade de ser uma escuta antiga
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